domingo, 6 de setembro de 2015

Estrela de 'Masterchef', Paola Carosella tem planos de abrir restaurante no Rio.




'Mi casa, su casa': Paola na Livraria da Vila, onde tem um café: defensora de preços "justos" - Fernando Donasci / Agência O Globo



Argentina radicada em São Paulo também pretende lançar livro com namorado fotógrafo


SÃO PAULO - Foi uma colher lotada de sorte que fez com que a chef argentina Paola Carosella virasse dona de restaurante em São Paulo. Era dezembro de 2001, ela passava uma temporada por aqui ajudando o então patrão, Francis Mallmann, a montar o restaurante Figueira Rubaiyat. A mãe de Paola tinha morrido há pouco naquela Argentina dolarizada e lhe deixado uma herança de US$ 170 mil. O dinheiro estava num banco de Buenos Aires. Até que um dia a gerente liga perguntando se ela queria aplicar o montante num fundo mais vantajoso. Ela ficou em dúvida, ligou para um amigo que trabalhava no mercado financeiro em Nova York.

— Ele me mandou tirar imediatamente a grana de lá. Mandei tudo o que eu tinha para os Estados Unidos. Um dia antes do Corralito! Você imagina, eu perderia todo o dinheiro — relembra.


'RECEBIDA COMO SE FOSSE A XUXA'

O status de celebridade, Paola sabe, vem muito por conta do programa “Masterchef”, da TV Bandeirantes, graças ao qual desde a primeira temporada, em 2014, é parada na rua, “recebida como se fosse a Xuxa” na escolinha da filha de quase 4 anos, além de andar “um pouco escondida na rua”. Quando a reconhecem em algum lugar, a fila de seflies é grande, e a chef sempre atende aos fãs com um “Prazer, Paola”, como se eles não a conhecessem. Aos 42 anos, ela também sabe que muita gente vai ao Arturito e ao La Guapa por conta de sua exposição na mídia:

— Estaria mentindo se falasse que o sucesso na TV não ajudou. A exposição é grande. Mas encaro essas pessoas que vêm pela primeira vez só para ir ao “restaurante da Paola” como clientes. O desafio é que venham uma segunda vez.

Paola já não pilota um fogão há um tempo, mesmo antes do programa. Mas vai quase diariamente ao restaurante, cria pratos, treina a equipe. A questão do preço lhe é muito cara. Defensora de que comida de qualidade não precisa custar tanto, diz que o preço final do prato tem que ser uma porcentagem da matéria-prima (todos os fornecedores são escolhidos por ela), da folha de pagamento, dos custos de manter o lugar, da “grande fatia de impostos do Brasil” e de uma fatia de “lucro lógico” para o chef que, “com muita (ela fala dez vezes a palavra muita) sorte, não deve ser superior a 12%”:

— Muita gente vem ao Arturito e diz que o restaurante não é nada demais. Não é nada demais mesmo. Quem vem esperando um Alex Atala não encontra. A pesquisa dele é outra. O que eu faço é um delicioso frango com batata.

Só que Paola e seus fãs sabem que os frangos com batata não são tão simples assim. Afinal, ela é considerada pela crítica como “rainha do fogo vivo”: faz carnes numa espécie de fogueira. Lida com calor extremo dos ingredientes. Seu polvo com feijão manteiguinha é outro carro-chefe do Arturito — duro para alguns, o animal tem a fibra preservada, “para extrair dele seu valor máximo”. As empanadas do La Guapa e o doce de leite, partes de seu DNA argentino, são um capítulo à parte e a popularizaram ainda mais.


HOMENAGEM A JULIA CHILD

Antes disso, Paola abriu seu primeiro restaurante, o Julia Cocina, em homenagem à sua musa, Julia Child. Era pequeno, a cozinha era aberta para o salão, o cardápio era minúsculo e o preço bem bom. Ganhou vários prêmios. O Julia foi o primeiro de uma leva de restaurantes simples e baratos que hoje são parte significativa do mercado gastronômico paulistano. Desentendeu-se com o sócio, vendeu a parte dela e, em 2007, abriu, com parceiros argentinos, o Arturito, “que ia contra a onda da simplicidade que eu queria, era pretensioso demais, caro demais”. Mesmo assim, ganhou vários prêmios e se consolidou como chef em São Paulo. Em 2011, engravidou de Francesca. Voltou da licença-maternidade disposta a retomar seu desejo de ter um negócio com características mais simples. Olhava para o Arturito “sem a menor vontade de frequentá-lo”. Batalhou um empréstimo e comprou a parte dos sócios.

— Foram tempos difíceis. Eu me separando do pai da minha filha (ela não gosta de tocar no assunto), me reinventando como profissional, mãe recente. Mas falava para minha equipe: fiquem calmos que tudo dá certo — conta.

E deu. No final de 2013, o Arturito estava bem perto do que Paola deseja que ele seja. O La Guapa veio logo depois. Tudo em sociedade com Benny Goldenberg, do Mangiare, que entrou na vida de Paola para ajudá-la a fazer um trabalho que ela se diz não muito capaz, de gerenciar contas, administrar.

— A gente se complementa. Tudo o que ela faz é impecável — diz Benny, com quem Paola tem planos, “ainda muito incipientes, porém planos”, de abrir um estabelecimento no Rio.

No ano seguinte à virada do Arturito, veio esta fama arrebatadora com o reality de gastronomia. Já está escalada para uma versão júnior do programa, com crianças, e para a terceira temporada.

— Paola é uma chef muito conceituada. Não tinha contato com ela antes. Convivendo hoje, pessoalmente, a gente percebe que ela é uma mulher muito determinada — diz Henrique Fogaça, companheiro de programa.

CONVITES PARA POSAR NUA

Além da fama de boa cozinheira, Paola tem 1,77 metro, uma beleza exótica de traços fortes e fala doce. Pensa bastante antes de expressar sua opinião. Não faz dieta. Mas, se come duas empanadas no almoço como fez durante a entrevista, toma somente sopa no jantar. Adora acompanhar o programa pelo Twitter, “para saber o que as pessoas estão pensando”. Já foi convidada para posar nua, mas recusou, afinal, diz: “Sou uma mera cozinheira.”

Cozinheira que nasceu de uma família de classe média baixa, de imigrantes italianos, na periferia de Buenos Aires. O pai era maníaco-depressivo e vivia internado. Ele e a mãe de Paola, filha única, se separaram quando era ainda pequena.

— Fomos sempre nós duas mesmo. Nos mudamos para Buenos Aires, minha mãe foi fazer faculdade de Direito. Nossa vida foi bem difícil, melhorando aos poucos — conta Paola.


Aos 18 anos, ela sabia o que queria fazer da vida. Foi trabalhar como secretária e o patrão, quando soube que cozinhava bem, convidou-a para preparar os almoços da empresa. Aí foi conseguindo outros empregos por restaurantes em Buenos Aires. Até que a mãe lhe deu, em 1992, uma viagem para Paris, onde estagiou por seis meses. Cinco anos depois, estava no importante grupo de Francis Mallman na Argentina, onde fez carreira até chegar a São Paulo com quatro malas.

Hoje, nem Paola consegue “dimensionar o fenômeno” que envolve seu nome. Prefere conservar a simplicidade, a vida ao lado da filha e do namorado recente, o inglês Jason Lowe, prestigiado fotógrafo de comida, com quem em breve lançará um livro contando sua trajetória. Ela e Lowe trocam carinhos pelas redes sociais e vivem na ponte aérea São Paulo-Londres. Mas Lowe, ela conta, tem planos de vir morar aqui. Além do livro juntos, os dois querem comprar uma casa:

— Vamos ver no que isso vai dar.

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